Filemom 8-16
A carta de Filemom é uma das menores cartas de toda a Bíblia, juntamente com segunda João, mas nem por isso ela possui poucos ensinamentos, pelo contrário, ela é recheada de instruções e princípios que nos inspira a viver na prática cada um deles.
Essa carta é inscrita por Paulo para seu cooperador Filemon com um propósito especifico de rogar em favor de Onésimo, que era escravo de Filemom e havia fugido, e nesse tempo de fuga, encontrou Paulo e acabou se convertendo e permaneceu auxiliando Paulo.
Chega um momento em que Paulo considera melhor que Onésimo retorne ao seu senhor e cumpra com suas responsabilidades, por isso escreve esta carta a ele, pedindo para que aceite novamente Onésimo, porém, agora como mais que um escravo e sim, primeiramente, como irmão.
E mesmo sendo nesse contexto e especifica para uma pessoa, podemos tirar dela várias lições práticas para nossa vida cristã, que estão inerentes nela, seja através das instruções de Paulo, da conduta de Filemom ou da transformação de Onésimo.
A primeira lição que podemos tirar é:
Amar (v.8-9)
Nos versículos 8 e 9 Paulo diz que ainda que ele tivesse liberdade em Cristo para mandar o que lhe convém, ele preferiu rogar pelo amor que há em Filemom. No início da carta Paulo faz menção de que o amor dele pelo Senhor Jesus e pelos santos era motivo de testemunhos que havia chegado até ele, por isso então, Paulo escolheu não usar da autoridade que ele tinha por ser apóstolo, mas pediu pelo amor que já havia em Filemom.
É impressionante ver que o amor de Filemom era tão grande que chagava ao ponto de as pessoas comentarem e fez com que Paulo não precisasse impor nada a ele. E esse amor não era somente para o Senhor Jesus, mas também para com os santos.
Todos nós amamos, ou pelo menos temos a capacidade de amar, porém, muitos de nós fazemos isso em níveis que consideramos comuns, mas quando uma pessoa ultrapassa esse limite ela é vista de maneira diferente. Temos os casos de pessoas que por amar tanto outras pessoas dedicaram suas vidas para ajuda-las, como é o caso da Madre Tereza, que por mostrar um grande amor e devoção ao ajudar o próximo, que algumas pessoas chegam ao ponto de a considerar santa, e não vou entrar no mérito de que isso é errado. Tem também aquele soldado que estava na guerra, e por amor aos seus amigos se jogou sobre uma granada para que eles não fossem atingidos, preferindo ser mutilado para ajudar aos outros. Mas fato é que as pessoas só falam de nossas atitudes de amor quando ela de alguma maneira ultrapassa esse limite imaginário que temos em nossas mentes.
Vivemos em um tempo em que o amor cada vez mais tem se tornado algo banalizado, sem peso, sem força. As pessoas não se amam mais, elas apenas usam uma as outras até quando elas precisam e depois descartam como se o outro fosse um objeto. E essa cultura, se assim pode se chamar, não acontece apenas no mundo lá fora, mas cada dia mais está dentro de nossas igrejas, dentro de nossas casas. Nós os cristãos, estamos cada vez mais deixando esse amor de lado, e usando, não apenas as pessoas, mas também a Deus.
O amor de Filemom foi testemunhado pelas pessoas, a ponto de chegar até onde Paulo estava, e não era apenas o amor dele para com Deus, mas o amor para com as pessoas.
Muitas pessoas estão amando mais os seus animais de estimação do que o seu próximo. As pessoas gastam milhares com seus bichinhos, mas não tem coragem de ajudar um irmão da igreja que está passando necessidade, isso para não falar dos mendigos que estão nas ruas.
E não podemos usar a desculpa de que fazemos isso porque não temos amor, pois na realidade temos a fonte do amor em nós, ou já se esqueceu de que é Deus o autor do amor? Ele é o amor perfeito que fala em 1 Co 13. E nós o amamos porque Ele nos amou primeiro.
Somos amados por Deus para que através do amor dele o amemos também, e amemos o nosso próximo. Mas o que você tem feito com esse amor? Será que as pessoas testemunham do nosso amor? Precisamos voltar a essência e amar a Deus e as pessoas, para que através do nosso amor as pessoas sejam alcançadas e Cristo seja glorificado.
A segunda lição que podemos tirar é:
Cuidar de nossa família (v.10)
Filemom foi um dos que foram alcançados pelo ministério de Paulo, e por isso ele também se encaixava no quadro de filho de Paulo, assim como Onésimo, e quando Paulo apresenta Onésimo como seu filho está dizendo a Filemom que da mesma maneira que aconteceu um dia com ele, havia acontecido ao seu escravo que havia fugido.
Algo interessante aqui é que Onésimo só se converteu depois que fugiu de seu senhor e encontrou com Paulo. Mas filemom era um homem amoroso e cheio de fé, porque Onésimo não se converteu quando estava sob seu senhorio? Não podemos afirmar o que aconteceu, mas isso é algo que acontece muito conosco. Somo muitas vezes ativos em nossas igrejas, demonstramos nosso amor para com todos, evangelizamos na rua, no trabalho, na faculdade, porém, esquecemos de nossas próprias casas. Nossa preocupação as vezes é tão grande com os que estão fora, que acabamos esquecendo os que estão dentro de nossas casas.
Quantos casos de líderes que quando estão na igreja são uma benção, conversam com todo mundo, abraçam todo mundo, oram por todo mundo, mas quando chega em sua casa parece que todo o amor acabou, e trata sua família com indiferença, não conversam, não ora por eles. Existem muitos casos de jovens que se dizem ateus, ou preferem não acreditar em Deus pois dizem que tem exemplos de pais ou pessoas na família que são cristãs, porém não conseguem amar sua própria família.
Talvez isso aconteça por acharem que não é necessário, quando na realidade a Bíblia nos ensina que nossa família é nosso primeiro ministério, e que se um presbítero não consegue governar a sua própria casa, não serve para ser presbítero.
Precisamos amar os de nossas casas com a mesma intensidade que amamos os de fora. Demonstre o amor que você sente pela sua família antes que ela se perca. Não espere ela fugir para depois se arrepender.
A terceira lição que podemos tirar é:
Testemunhar (v.11-13)
No versículo 11 Paulo faz um jogo de palavras com o nome de Onésimo que significa útil, e diz que antes ele era inútil para Filemom, mas agora se tornou muito útil para Paulo e para ele.
A mudança na vida de Onésimo também foi algo perceptível segundo Paulo. Quando ele não era cristão, causava problemas, e como alguns dizem sobre Onésimo, ele roubou seu senhor e por isso fugiu, mas depois que se converteu, se tornou muito útil auxiliando Paulo em seu ministério, chegando a dizer nos versículos 12 e 13 que o enviava como se estivesse enviando seu próprio coração, e que tinha o desejo de retê-lo consigo para que continuasse o auxiliando.
A transformação de Onésimo é algo que deve ser natural na vida da pessoa que é salva por Cristo, pois, uma das coisas que confirmam que uma pessoa é salva é a regeneração, a mudança de vida. É deixar o velho homem para trás e viver uma nova vida com Cristo.
E como anda a sua vida? Nós temos o costume de sempre olhar para a vida do próximo analisando as suas atitudes e dizendo que eles não estão vivendo uma vida correta, porém, nesse momento eu te convido para olhar para si mesmo. Te convido a fazer uma autoanalise para saber como era sua vida antes de se converter e como ela é agora. Existe diferenças? Você que era ladrão deixou de roubar ou continua a pegar coisas que não lhe pertence? Você que mentia deixou de mentir ou continua omitindo as coisas para o seu benefício? Você que se prostituia deixou de se prostituir ou ainda continua sendo imoral? Você que era idolatra, quebrou os seus deuses ou ainda adora o seu próprio ventre?
Às vezes nós não abandonamos o pecado, mas os trocamos por outros menos aparentes. Ao invés de adorarmos um bezerro de ouro adoramos nossos filhos ou algum eletrônico. Ao invés de se prostituir, desejamos a mulher ou marido de nosso próximo. Essas coisas continuam sendo pecado, continuam sendo atitudes do velho homem.
Se não existe mudanças entre sua vida de antes e a de agora é possível que você não tenha se convertido realmente, e se isso é verdade você precisa então se arrepender, se converter e começar a se tornar uma pessoa útil verdadeiramente.
A quarta lição que podemos tirar é:
Crescer (v.14)
No versículo 14 Paulo demonstra uma atitude honrosa diante Filemom. Ele diz que não fez nada para que o favor que ele fizesse fosse espontâneo e não forçado.
Aqui temos um princípio de liderança por parte de Paulo onde ele demonstra que confia na escolha de que Filemom iria fazer, e que não queria obriga-lo a fazer nada. Como líder de Filemom Paulo poderia sim dizer o que ele deveria fazer, mas ele preferiu deixar que ele fizesse o que ele mesmo achasse correto, por livre e espontânea vontade.
Paulo sabia que podia confiar em Filemom, sabia que faria algo bom sem precisar ser forçado, e será que somos dignos de tal confiança de nossos líderes?
Nós vivemos muitas vezes um dualismo em nossa vida cristã. Como um adolescente queremos que nossos líderes nos deixe caminhar sozinhos, fazer nossas próprias escolhas, mas quando eles fazem isso corremos de volta para eles e pedimos que eles nos conduzam. Em suas outras cartas Paulo já dizia que a vida cristã deve ser progressiva, quando somos crianças desejamos as coisas de crianças, mas depois que crescemos devemos deixar as coisas de crianças e viver como adultos, e a medida que nos tornamos maduros a tendência é começar a ser capaz de tomar decisões sozinhos, a fazer escolhas sem precisar mais de alguém para nos conduzir. Assim deveria acontecer em nossa vida cristã. Deveríamos continuar a crescer ao ponto de nos tornamos independentes e sermos capazes de conduzir outros, pois em lugar nenhum uma criança é capaz de ensinar a outra.
Devemos continuar a crescer, para que sejamos maduros suficiente para que nossos líderes possam confiar em nós coisas que não podem confiar a crianças, para que possam confiar a vida de outros irmãos em nossas mãos.
A quinta lição que podemos tirar é:
Honrar à Deus no trabalho (v. 15-16)
Nos versículos 15 e 16 Paulo declara a soberania de Deus sobre tudo o que aconteceu mostrando que ele havia perdido Onésimo por um tempo para que o tivesse novamente para sempre, e agora muito mais do que escravo, mas como um irmão amado.
Aqui Paulo mostra a Filemom que ainda que ele tivesse sofrido alguma perda anteriormente, foi para que ele ganhasse algo muito maior que era a salvação de Onésimo e isso pode acontecer em nossas vidas. Precisamos ter nossa confiança em Deus que é soberano e saber que Ele é quem conduz todas as coisas, e que muitas vezes perdemos algumas coisas para que a vontade dele seja feita.
Mas existe outra coisa interessante nesses dois versículos. Paulo devolve Onésimo para voltar a ser escravo de Filemom. À primeira vista, essa atitude de Paulo pode parecer inconsequente, pode não parecer correta, mas ele tinha uma intenção muito mais profunda quando fez isso.
Em primeiro lugar, Paulo está ensinando a Onésimo que ainda que tenhamos nos convertido, deixado nossa velha vida, e tido nossos pecados perdoados, é necessário que assumamos nossos erros com arrependimento. Onésimo não agiria de forma correta se não retornasse para assumir sua dívida.
Devemos assumir as nossa dividas que tínhamos antes de nos converter, pois é necessário darmos testemunho de mudança de vida, principalmente para aqueles que nos conheciam antes da nossa mudança de vida.
E em segundo lugar, Paulo tinha a intenção de mostrar que mesmo que tenhamos nos convertido, temos a responsabilidade de trabalhar e dar testemunho. Filemom que antes era senhor de Onésimo, passou a ser antes irmão e depois senhor, e Onésimo passou a ser irmão e servo. Isso mostra que é possível ser cristão e ser dono de uma empresa ou ser empregado.
Vamos muitos empresários que se dizem cristãos, mas quando chegam em suas empresas parecem que esquecem disso, e tratam os seus empregados como verdadeiros escravos, sem respeito. E muitos se justificam dizendo que se não fizerem isso, seus empregados não irão trabalhar. Mas temos aqui o exemplo que Paulo nos deu, de que é possível sim, ser cristão e ter empregados.
Mas também existe muito cristão que é empregado, mas não trabalha como um verdadeiro cristão. Eles fazem seu trabalho de qualquer forma, apenas para receber o seu salário no fim do mês. Vemos, porém, que é responsabilidade do cristão trabalhar dando o seu melhor, de todo coração, como ao Senhor.
É possível ser cristão e trabalhar secularmente! Mas é necessário que as pessoas vejam em nós essa diferença em nossas vidas, seja como patrão ou como empregado. Que Cristo seja em tudo engrandecido através de nossas vidas.
Conclusão
Podemos então tirar muitas lições dessa pequena carta, que em uma leitura superficial parece não nos trazer nada, mas possui valores e diretrizes de grande importância para nossas vidas.
Devemos então lembrar que temos que deixar que nosso amor a Deus e ao nosso próximo seja visto pelas pessoas.
Que devemos cuidar das pessoas, mas sem esquecer os que estão em nossas casas.
Precisamos testemunhar com as mudanças em nossas atitudes de antes para as de agora.
Que como cristãos precisamos crescer, deixando de ser crianças, e nos tornar maduros, dignos de confiança de nossos líderes.
Que nossa confiança deve estar firmada no Deus soberano que governa todas as coisas.
E que devemos entender que é possível ser cristão e trabalhar secularmente, porém, dando testemunho de que somos cristãos.
Que o Senhor possa nos ajudar a reter esses ensinamentos firmes em nossas mentes e corações, e que consigamos coloca-los em prática. Que Deus os abençoe.